quinta-feira, 19 de setembro de 2013

INTERVENÇÃO DO GRÃO-PRIORADO DE PORTUGAL

Por motivos de segurança das crianças da instituição, só expomos imagens dos espaços físicos
Como temos vindo a enumerar nos últimos meses neste espaço informativo, o Grão-Priorado de Portugal, tem intervindo de forma ativa em várias instituições de apoio social, através de roupas e alimentos.
Obviamente que as carências sociais dos dias de hoje são imensas, tocando cada um dos nossos corações, no entanto todos os meses temos intervindo da forma ativa, dentro das nossas capacidades e meios, nas mais variadas instituições.
No mês passado, chegou-nos a informação de uma instituição que apoia crianças entre os 5 e 19 anos, a qual está sob a orientação do Padre Bernardo Queirós Alves.
É difícil imaginar a dor existente no coração de uma criança que veio a este mundo sem o aparo familiar, sem o aconchego de um simples abraço ou sorriso de uma mãe, de uma brincadeira do pai, etc. Espaços vazios que uma criança não deveria ter. 
Ontem, 18 de Outubro, fomos visitar esta instituição e entregar mais de 200 peças de roupa para estas crianças. A chegada de pessoas alheias ao espaço, fê-las de forma rápida aproximarem-se de nós sem hesitação. A primeira foi um criança de apenas 5 anos de idade que puxava com a sua mão uma jovem que deveria rondar os 14 anos. Essa criança de 5 anos, trazia um sorriso nos seus lábios, perguntando-nos logo quem eramos e o que trazíamos. Antes de explicar-mos o que ali estávamos a fazer, já a responsável explicava quem eramos.
Possuem um espaço lindíssimo, onde existe uma residência para 21 crianças sem família, rodeados por campos de cultivo plantados e tratados por eles mesmos, existindo ainda patos, galinhas, coelhos e uma lindíssima capela. Enquanto visitávamos as instalações, sentia-mos as crianças a correrem de um lado para o outro a observarmo-nos. A coordenadora do espaço explicou-nos de forma detalhada o funcionamento daquele espaço. Um grande projeto, e uma grande família.
Chama-se Centro de Solidariedade Cristã Maranatha, uma Associação de Solidariedade Social sem fins lucrativos e registada como IPSS.
Possuem dois lares para crianças e jovens em Grijo e Sermonde, onde exercem outras valências como resposta às solicitações provenientes das carências dos mais pobres ou das debilidades de uma sociedade que provoca desequilíbrios.
Esta instituição não diferencia as pessoas em virtude do seu credo ou ideologia, possuindo uma atitude ecuménica e de cooperação. Exercem a sua ação em cinco pontos fundamentais: lar de crianças e jovens, acolhimento e acompanhamento psicossocial, saúde/cultura/ecologia, solidariedade local e no campo espiritual.
Quem percorre este espaço de beleza natural e humana, encontra-se com recantos inspiradores, como a “Tenda do Encontro” (designação da Capela deste centro). O nome “Tenda do Encontro” encerra os objetivos que pretendem realizar na sua dimensão humana e Cristã. Edificaram a “Tenda” dos homens, para que seja partilhada por todos os residentes. Como escreveu o Padre fundador deste espaço “assim fez Deus ao montar a sua Tenda no nosso meio, pela Incarnação do seu Filho. Queremos estar no coração do Mundo escutando os gemidos e dores para os aliviarmos, pondo os coxos a andar e os cegos a ver, os mudos a falar e os abatidos a recuperar forças e sentido. É aí que queremos investir tudo o que temos e somos.”
A Tenda é um símbolo humano de grande riqueza. É a casa de um povo que caminha e se apresenta quando é preciso, bem junto da mãe terra.
A Tenda favorece a proximidade, convida à simplicidade e à partilha com a Natureza.
Na Bíblia é também um símbolo de presença de Deus no meio do povo que caminha rumo à liberdade (a Tenda que abriga a Arca da Aliança) e a Festa das Tendas, em que se louva o Senhor pelos Frutos da Terra (Lev. 23,33). “Ninguém aparecerá de mãos vazias diante do Senhor na festa das Tendas e cada um dará segundo as suas posses” (Deut. 16, 16).
A Tenda destina-se a fazer o encontro:
1- O Encontro consigo próprio na descoberta de todas as potencialidades, dos carismas que possui. Tenta criar o ambiente para fazer desabrochar e crescer o potencial de cada um ali presente;
2- O Encontro com o outro, na relação, na partilha, na aprendizagem do crescimento com os outros, criando um clima familiar, comunitário, na corresponsabilidade e na organização para a construção de um bem comum. Tudo em ordem na construção da fraternidade pelo Amor (1 Cor 12; 13);
3- Encontro com a Natureza, a terra. Dela tiramos a energia e o alimento, o ar puro que respiramos, a água fresca, límpida que corre das nascentes, a beleza que contemplamos e preenche o coração; as músicas do vento, os pássaros e os riachos que se juntam à voz dos animais. Toda a envolvência do espaço é expressa por estas sensações, tornando-se num encontro consigo mesmo, com os outros, com a Natureza, tendo no seu centro o encontro com Cristo.
Quem percorre os campos desta instituição, aproveitados ao centímetro para cultivo, rodeados por árvores que ainda deixavam passar uns raios de luz ao final da tarde, lembrando-nos da “Árvore da Vida e Sol”. Diz o livro do Génesis que a “Árvore da Vida estava no meio do jardim, assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gen. 2,9). Cristo vem conduzir o homem ao seu “primeiro amor” (Apoc. 2,2-4). A Árvore da Vida cortada rebenta das suas raízes.       
É esta luz que nos persegue de entre os ramos junto á Capela, é como nos diz S. João: “O Verbo era a luz verdadeira, que ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina” (Jo 1, 9-10). Jesus ao curar o cego de nascença deu-lhe a luz e ele passou a ver. A luz não é para brilhar, é para iluminar todas as coisas e as realidades que nos rodeiam. Mas há quem tenha medo da luz, porque ela também denuncia os que vivem no mal. Cristo é a luz da Páscoa, a luz fulgurante. Dentro de cada um de nós há uma luz que lhe alarga o horizonte e guia-nos no caminho da procura e do encontro.
No interior da Capela, revestida a pedra e madeira, possui no seu centro um altar rodeado de cadeiras onde as crianças se sentam e ouvem a palavra de Deus. Na sua entrada encontra-se uma pedra com água. A pedra simboliza Cristo, a Pedra Angular, a pedra básica que solidifica a construção. A casa edificada sobre pedra, tem uma garantia que não tem a que é construída sobre areia (Jo 28, 16; Act. 21, 42; Act. 4, 11-12; Cor. 3,11). A Pedro foi dito: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt. 16, 18). A água que se encontra nesta pedra, é a água que brota do coração de Cristo ao ser ferido pela lança do soldado (Jo 19, 34 e Jo 5,6), é a água que mata todas as sedes dos homens, aquela que Jesus deu à Samaritana junto do poço de Jacob (Jo 4, 10-15). É o próprio Jesus que nos diz: “Se alguém tem sede venha a mim e beba, pois do seu coração correm rios de água viva (Jo 7, 37). “E todos beberam do rochedo espiritual que os seguia e esse rochedo era Cristo” (1 Cor 10, 4 e Ap. 22,1).
A água por si é o elemento básico da vida para a terra, para a criança que no ventre materno está envolta em água, passando pelo batismo e a descida do Espirito. Na Bíblia é dos elementos mais ricos da mensagem Cristã.
Ao fundo da Capela existe uma lareira com um Cristo por cima. A descoberta do fogo provoca um salto civilizacional imenso. Na Bíblia é, como a água, um elemento fundamental da vida. Ele aparece no Antigo Testamento como elemento das relações de Deus com o seu povo. Javá manifesta-se a Abraão na forma de fogo no contexto de um diálogo pessoal (Gen. 15, 17) como na teofania de Sinai (Ez. 1) e do fogo devorador da impureza (Deut. 4, 24; 6, 15) e do bezerro de ouro.
Cristo batiza no Espirito Santo e no fogo (Mt 3, 11). É o mesmo fogo que ardia no Coração dos discípulos de Emaús no Encontro com o forasteiro, o Jesus Ressuscitado (Lc. 24, 32) e o mesmo que em Línguas de fogo desceu sobre os Apóstolos no Pentecostes. A energia, a cor e o calor que brota do fogo estabelecem a relação e o diálogo entre o humano e o divino.
Saindo da Capela, envolve-nos novamente a natureza, ao que esta instituição apelida de “Espaço Ecuménico”. Relembram que vivemos num Mundo sem fronteiras. Os muros foram caindo e é preciso que façamos cair os que ainda restam.
A Igreja é Universal e tem uma forte razão na sua riqueza: a partilha das diferenças. Como diz o Evangelho, Deus não faz aceção de pessoas e, como diz São Pedro: “já não há grego ou judeu, homem ou mulher, escravo ou homem livre, pois todos são um em Cristo Jesus”, (Gal. 3, 28; 1 Cor. 12, 13) e como diz São Paulo: “onde está o Espirito do Senhor, aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17) Em Abraão, "Deus abençoou todas as nações" (Gen. 22, 18).
Santo Agostinho dizia: “Na essencial unidade, na opinável liberdade e em tudo caridade”. Eis um belo princípio para a unidade na diferença. Desde o Concílio Vaticano II que se têm repetido os esforços e gestos concretos de diálogo, de ecumenismo.
Os Cristãos que fazem parte desta Instituição, como os Cristãos que fazem parte deste Grão-Priorado, como os Cristãos do Mundo, são como o fermento, que se transforma para com humildade e serviço, levar a novidade da vida que o Evangelho propõe. Neste espirito terá como prioritário o serviço aos mais pobres, aos mais esquecidos, etc, buscando sempre o que mais nos une, e não o que nos separa.
Ter entregue estas mais de 200 peças de roupa a estas crianças, não é um prazer, é uma obrigação para todos os membros deste Grão-Priorado, que no momento em que se tornaram Lazaristas, juraram perante Deus e os seus Irmãos de Habito, que ingressam neste projeto para servir nesta nossa sociedade tão desequilibrada.
Termina-mos esta intervenção com as palavras do Padre fundador deste lindíssimo espaço de ação social e cívica: “Quero dizer às nossas crianças e jovens que os amamos mais do que fomos capazes de expressar e dizer”.