segunda-feira, 30 de junho de 2014

ORDENAÇÃO EPISCOPAL DE D. FRANCISCO JOSÉ SENRA COELHO

D. Francisco José Senra Coelho, Capelão Sénior do Grão-Priorado de Portugal da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém, foi este Domingo, 29 de Junho de 2014, Ordenado na Catedral de Évora.
 
“A Igreja de Évora exulta e canta com júbilo no momento em que um membro do seu presbitério vai ser agregado ao colégio dos sucessores dos Apóstolos e dado como bispo auxiliar à Arquidiocese Primaz de Braga, aqui tão dignamente representada pelo seu Pastor, acompanhado pelo bispo auxiliar, por muitos membros do clero e numerosos fiéis, entre os quais se incluem os familiares do novo bispo, D. Francisco José Senra Coelho. Quiseram juntar-se a esta numerosa assembleia de bispos, presbíteros, diáconos, membros de institutos de vida consagrada e de outras instituições eclesiais ou simples fiéis, provenientes de várias dioceses, num hino de acção de graças a Deus, pelos maravilhosos dons que, continuadamente, concede à Sua Igreja, mediante a renovação do ministério episcopal, através do serviço hierárquico do Sucessor de Pedro, rocha firme sobre a qual Cristo assentou os alicerces da Igreja.
Actualmente, a consistência e a força dinâmica dessa rocha adquire visibilidade na pessoa do querido papa Francisco, que preside à caridade de todas as igrejas e ao qual prestamos sentida homenagem de gratidão e profunda comunhão eclesial. Cada ordenação episcopal acrescenta um elo à cadeia ininterrupta da sucessão apostólica. Pela imposição das mãos dos sucessores dos Apóstolos, o novo bispo recebe a efusão do Espírito Santo e a plenitude do sacramento da Ordem, que o colocam ao serviço da Igreja Universal e o tornam membro do colégio episcopal. A colegialidade cria nele vínculos espirituais fortes que o ligam afectiva e efectivamente aos seus irmãos bispos e ao sucessor de Pedro de tal forma que, a partir da ordenação, o bispo nunca mais será um homem só e isolado. A comunhão de caridade colegial faz dele sinal e promotor da fé, da unidade e do anúncio evangélico.
A efusão do Espírito Santo configura-o com Cristo que grava nele o seu rosto humano e divino, o seu poder e a sua virtude, a fim de que, no exercício do ministério episcopal, transpareçam, de forma harmoniosa, as funções de pastor, de pai, de irmão, de discípulo de Cristo, de mestre da fé e filho da Igreja. De acordo com os ensinamentos de S. Pedro, enquanto pastor, o bispo assume o compromisso de apascentar e velar pelo rebanho que lhe for confiado, de boa vontade e por dedicação, tornando-se modelo no meio da comunidade e imitando o Bom Pastor que ofereceu a vida pelas suas ovelhas (Cf 1Pd 5,1-4). Como profeta, servo e testemunha da esperança, compete-lhe proclamar diante de todos as razões da sua esperança (1Pd 3,15) e incutir confiança a todos, principalmente, aos desalentados e oprimidos pela injustiça, aos que se encontram em provação e aos que vivem em ambientes culturais que obstaculizam a abertura ao transcendente. Pois onde falta a esperança, a fé é posta em questão e o amor enfraquece. Ora, do bispo espera-se que seja sentinela vigilante, profeta corajoso, testemunha credível e servo fiel de Cristo, que é a esperança da glória (Cl 1,27). Com efeito, é Cristo, o enviado do Pai, quem envia o bispo ao mundo inteiro a proclamar o Evangelho a toda a criatura (Mt 16,15).
Por isso, a Palavra tem lugar central na missão do bispo. Porém, o primado não cabe ao anúncio mas à escuta, uma vez que, antes de a Palavra ser confiada ao bispo, foi o bispo confiado a Deus e à palavra da sua graça (Act 20,32). Assim, antes de ser transmissor, deverá ser ouvinte da palavra, alimentando-se dela como de um ventre materno, mediante o estudo, a oração e a contemplação, porque a evangelização autêntica nasce da escuta. Já S. Domingos, pregador insigne e mestre de pregadores, dizia que o silêncio é o pai da pregação. Por isso, quando na contemplação, o pensamento do Senhor (1Cor 2,16) transforma gradualmente a inteligência, o sentimento e o comportamento do pregador, este, ao transmitir aos seus ouvintes o que contemplou, liberta-se do intimismo subjectivo, para anunciar a verdade evangélica, da qual se alimenta toda a sua vida. Foi esse o caminho percorrido por S. Paulo, o maior de todos os evangelizadores e dado como modelo a todos os bispos. Se foi grande a sua preocupação com o anúncio do Evangelho, maior foi o seu desejo de se identificar com Cristo, chegando mesmo a escrever: já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim. Da sua identificação com Cristo lhe veio a audácia para se lançar na aventura de evangelizar os gentios, a fortaleza para enfrentar as múltiplas e grandes contrariedades, a força interior para não desanimar, o zelo pastoral por todas as igrejas, a constância para combater o bom combate até ao fim, com a certeza de que Cristo sempre esteve a seu lado, não permitindo que desfalecesse. Querido irmão, D. Francisco, pela ordenação presbiteral foste assumido do meio do povo e colocado ao serviço dos homens nas coisas de Deus. Muitos dos que hoje estamos aqui temos conhecimento da forma generosa e convicta como, durante vinte e oito anos de sacerdócio, te entregaste a esse serviço, que deixa marcas benéficas e indeléveis nos corações de muitas pessoas e em áreas pastorais diferenciadas. Contigo louvamos a Deus pela abundante sementeira da Palavra de Deus, pela administração generosa da graça divina e pelo testemunho efectivo de caridade, que sempre recordaremos com saudade e como estímulo para prosseguirmos com entusiasmo e alegria a missão de construir o Reino. Porém, a partir de hoje, o Povo de Deus espera mais de ti.
Na verdade, o episcopado não é honra mas trabalho; mais do que presidência é serviço; é caminho de santidade conseguida pelo exercício fiel do ministério, pela oração e pela oferenda do sacrifício de salvação em favor da humanidade. Continua a ser fiel dispensador dos dons de Deus, guarda e defende, com solicitude paterna, a igreja que te vier a ser confiada, amando com amor paterno e fraterno a todos, sobretudo os ministros ordenados, teus directos colaboradores, os pobres e os que se encontram em necessidade. Deus te conceda o dom do acolhimento evangélico para que possas viver a alegria do encontro com quantos solicitarem a tua ajuda, o teu conselho e a tua compreensão de pai misericordioso. Colocado à frente da Igreja de Deus, procura governá-la em nome do Pai, de quem és imagem, em nome do Filho, cujo múnus de mestre, sacerdote e pastor vais exercer, em nome do Espírito Santo que dá a vida e fortalece a nossa fraqueza com a sua força. E que Maria, Mãe do Evangelho vivo (EG,287), mulher orante, contemplativa e trabalhadora, que vive e caminha na fé, com seu estilo maternal de evangelização, te ajude a viver a dinâmica da contemplação e do caminho para os outros, que é também o caminho de Deus.”

+José, Arcebispo de Évora
(Retirado do site da Arquidiocese de Évora)