É do conhecimento geral que a
primeira gafaria da Ordem de São Lázaro em Portugal, surge no século XII na
terra do Marco, hoje conhecida por todos nós como Marco de Canavezes.
Ainda hoje em dia junto ao
rio, podemos observar a Igreja de São Lázaro (movida no século XVII devido ao
caudal do rio) a qual contou com a visita do nosso Grão-Mestre à cerca de ano e
meio, juntamente com o Conde de Campo de Alange e uma delegação do Grão-Priorado
de Portugal. Durante esta visita, muito se imaginou a coragem daqueles homens
ao percorrerem milhares de quilómetros desde Jerusalém, por caminhos repletos
de dificuldades e aventuras, doenças que assolavam tamanha façanha, com o
objetivo de instituírem uma gafaria, a qual segundo os relatos escritos da
época, ficou completamente edificada com capela no ano de 1264.
Grão-Mestre com o Vereador da Cultura Dr. José Manuel Nogueira Teixeira Bastos
Mas movia-os a fé, a
divulgação da palavra do Senhor, e a preservação de uma responsabilidade
social, fazia-os ultrapassar todas estas dificuldades.
Os séculos vão passando e a
gafaria permaneceu, assumindo sempre a sua responsabilidade social e religiosa,
como nos relatam os trabalhos de António Vasconcellos (op. Cit. Págs. 78, 85 e
86), onde se pode ler explicitamente “Ordem de S. Lázaro” e a nomeação de João
Pinto de Vasconcellos como “administrador”, por nomeação a 29 de Julho de 1750
por alvará de Sua Majestade El-Rei Dom João V (Chancelaria de Dom João V liv.
121, fl. 24).
Damas de Portugal e da Irlanda
Os Cavaleiros e Damas da Ordem
de hoje, quiseram recordar não só o passado, mas também colocar em si próprios
a responsabilidade de continuar o legado histórico e patrimonial que lhe foi
delegado ao longo dos séculos, e para tal, não poderia ser escolhido outro
local que não fosse Guimarães – “a cidade berço da nacionalidade”. Reza a
história, que foi a Rainha Mafalda, mulher do nosso primeiro Rei de Portugal,
que patrocinou financeiramente o início da construção da gafaria da Ordem,
fazendo-se supor que tal apoio tenha levado os cavaleiros Lazaristas a passarem
por Guimarães.
Assim sendo, a cidade de
Guimarães acolheu 12 delegações internacionais da Ordem Militar e Hospitalar de
São Lázaro de Jerusalém, o seu 49º Grão-Mestre D. Carlos de Bourbon, o
Grão-Comendador Internacional, o Grão-Chanceler Internacional e vários outros
membros do Grã-Conselho Magistral, juntamente com vários Priores, para
assistirem a este marco histórico em Portugal.
Membros da Ordem
Um dos principais objetivos da
organização, foi mostrar e recuperar toda a carga histórica que Guimarães
possui perante a nossa nação, iniciando-se estas iniciativas no dia 3 de
Outubro com uma receção oficial na Câmara Municipal de Guimarães, onde o
Vereador do pelouro da Cultura referiu nas suas palavras o intenso trabalho
cultural que a cidade tem produzido ao longo dos últimos anos, ao qual o nosso
Grão-Mestre apresentou um agradecimento muito especial à cidade de Guimarães,
por nos receber de forma tão especial nesta iniciativa promovida pelo
Grão-Priorado de Portugal. A cerimónia oficial terminou com a entrega da
“Medalha de Honra” do Grão-Priorado de Portugal à cidade de Guimarães.
Estandarte do Grão-Priorado de Portugal
Com uma comitiva de trinta
pessoas, composta pelos representantes das diferentes nações e pelo Conselho
Magistral da Ordem, a mesma deslocou-se até à sede do Grão-Priorado de
Portugal, situada, à semelhança de mais de 700 anos atrás, na região do Marco
de Canavezes, onde puderam visitar as nossas instalações.
Entrando pelo portão da época
com um Brasão de Armas relembrando a história que simboliza o espaço, pode-se
observar do pátio as várias construções que compõem a sede. Subindo as escadas
em pedra, passamos por um vitral com mais umas Armas de Família e somos levados
a sentir já dentro do edifício, a história dos vários quadros antigos das
pessoas que ficaram imortalizados naquelas pinturas.
Conde de Bracial - Hospitalário do Grão-Priorado de Portugal, Barão de Arêde - Guarda Selos do Grão-Priorado de Portugal e o Grão-Mestre D. Carlos de Bourbon
Na Capela particular da sede,
também com acesso direto pela Casa, deslumbra-se no altar em pedra esculpida
com a Cruz da nossa Ordem de São Lázaro do tempo em que os Reis de França
exerciam a sua proteção á Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém,
com as suas quatro flore-de-lis.
No topo do altar, a Nossa
Santa e Terna Mãe observa-nos com os seus olhos pintados num quadro,
dizendo-nos que estará sempre connosco.
Por entre salas, quartos e os
três pisos que possui esta casa, a delegação sente o silêncio característico da
região, permitindo-lhes reconhecer que é um espaço onde os Cavaleiros e Damas
do Grão-Priorado de Portugal podem usufruir para os seus retiros.
Este é o cenário que esta
delegação encontrou, repleto de história, mas também de espiritualidade.
Depois da fotografia que
registou para sempre o momento, um pequeno grupo do Conselho Magistral da
Ordem, foi almoçar ao solar do Inquisidor do Grão-Priorado de Portugal –
Visconde de Garcêz – Luís Lencastre. Uma propriedade com traços também repletos
de história e que demonstra no seu mais ínfimo detalhe, o característico antigo
solar da região, envolvido por obras de arte no seu interior.
Depois do almoço, o merecido
descanso no local que acolheu as mais de cento e cinquenta pessoas que participaram
nestas comemorações, a Pousada de Santa Marinha que se encontra situada no topo
de Guimarães, da qual se pode observar os Paços dos Duques de Bragança e do
Castelo de Guimarães.
O Grão-Priorado de Portugal
rege-se na sua estrutura organizativa nacional por dois pilares fundamentais na
sua vida ativa, o apoio social a quem mais necessita e uma forte orientação
religiosa em cada um dos seus membros. Cumprindo este ultimo principio, foi
pelas vinte uma horas do dia 3 de Outubro, que os postulantes do Grão-Priorado
de Portugal se concentraram na sacristia da Igreja da Pousada de Santa Marinha
(antigo Mosteiro dos Agostinhos do século XII), enquanto entoavam os cânticos
gregorianos da Igreja.
Prior de Espanha - Marquês de Armunia - D. Iván de Arteaga y del Alcázar
Nos claustros aguardavam os
Cavaleiros e Damas da Ordem, os futuros Irmãos em Lázaro e lá dentro os
Postulantes em conjunto recitavam orações com o terço da Ordem nas suas mãos.
Ao final de uma hora, os
Postulantes estavam preparados para percorrem os claustros do antigo Mosteiro,
subir a escadaria que os levaria à Igreja e serem recebidos pelos Cavaleiros e
Damas da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém. Toda a
cerimónia fez-se acompanhar pelos cânticos gregorianos, o silêncio da noite e a
continua oração. Cada um com o seu livro na mão e o terço na outra,
acompanharam as palavras que os levariam a um compromisso perante o Senhor, de
estarem com o seu coração prontos a servir os que mais necessitam, e a divulgar
a Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, sob a proteção do nosso Santo Patrono São
Lázaro. Foram duas horas de recoleção, de oração, onde todos em conjunto se
uniram através da Fé.
No dia seguinte, pelas dez
horas da manhã, uma camioneta esperava os desejosos de conhecer a “cidade berço
da nacionalidade” – Guimarães. Foram três horas de visita turística, passado
pelo Paço dos Duques de Bragança, pela Capela de São Miguel e o emblemático
castelo de Guimarães. A guia turística levou todos os membros a percorrerem as encantadoras
ruas da cidade, terminando esta visita pelas treze horas.
49º Grão-Mestre D. Carlos de Bourbon
O momento alto das cerimónias
aproximava-se. Pelas 16h e 15m já nos claustros da Pousada da Santa Marinha,
chegavam por todos os lados os mantos negros com a cruz Lazarista. Na Sacristia
os Postulantes reliam os textos do dia anterior e rezavam em grupo, preparando
o seu coração e espirito para a cerimónia que se aproximava. Do lado de fora,
nos claustros, todos se organizavam, aguardando os Postulantes. Estavam todos
preparados e saindo do referido claustro de onde já se ouvia o hino da Ordem
entoado por um magnifico grupo coral dirigido pelo Prof. Hélder Bento(Audivi Vocem), o cortejo começou a percorrer a calçada exterior da
Igreja, subindo a escadaria em pedra, passando pela imponente porta e
rapidamente se inundou a casa do Senhor com os mantos negros da Ordem com a sua
cruz verde. Deu-se início à cerimónia.
Grão-Mestre e os novos Cavaleiros e Damas da Ordem
Por entre cânticos, orações e
profunda união espiritual, os Postulantes depois de se apresentarem perante
Deus Nosso Senhor e perante o nosso Grão-Mestre, juravam dedicar o seu corpo e
alma ao compromisso social de ajudar o próximo, sempre alicerçada na fé e na
oração. E assim recolhiam de seguida aos seus novos lugares como Cavaleiros e
Damas da Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém. A cerimónia
terminou com a comunidade em oração, conscientes que todos temos uma
responsabilidade cívica, social e religiosa, e que essa mesma é, a que nos
chama a dizer que devemos ser como Lázaro “amigos de Cristo”.
49º Grão-Mestre D. Carlos de Bourbon
Já na Sala do Capitulo da
Pousada de Santa Marinha, e porque estávamos todos em festa, os convidados
foram recebidos com um concerto de música lírica, seguida de uma atuação da
típica música portuguesa, onde os xailes minhotos, cavaquinhos, e cânticos
tradicionais, mostraram às delegações presentes e recordaram aos portugueses, a
nossa cultura.
O jantar de gala, realizado no
Salão Nobre desta Pousada, reuniu mais de cento e cinquenta pessoas, onde o bom
intercâmbio cultural das diferentes mesas se fazia sentir pela boa disposição
de todos os presentes.
Durante o discursos de
agradecimento a todos os que participaram nesta iniciativa, entregou-se a
Medalha de Honra do Grão-Priorado de Portugal ao nosso Grão-Mestre D. Carlos de
Bourbon – Marquês de Almazán, ao Grã-Comendador da Ordem Dr. Ronald Hendriks,
ao Grã-Chanceler da Ordem Dr. Edward B. White e ao Prior de Espanha D. Iván de
Arteaga y del Alcázar – Marquês de Armunia.
As palavras finais do nosso
Grão-Mestre foram o perfeito finalizar deste jantar, recordando a
responsabilidade que assumimos quando nos tornamos membros desta instituição, e
pedindo a todos um grande brinde por Portugal.
De seguida, e de volta à Sala
do Capitulo, foi aberto o Baile de Gala com a tradicional valsa, seguida de um
animado convivo que foi terminado pelas quatro da manhã ... imposto pela
organização … porque no dia seguinte ainda havia muito para trabalhar.
A responsabilidade de escrever
sobre esta iniciativa, é uma tarefa difícil. Jamais as mesmas conseguem
descrever a boa disposição, convívio e espirito religioso que se sentiu por
todos os presentes. A alegria que ainda se vivia nos dias seguintes, ao
recordar esta iniciativa do Grão-Priorado de Portugal, também era expressa pela
forte mensagem desta iniciativa. É fácil sorrir, é fácil dedicarmos o nosso
coração aos outros, é fácil seguir a palavra de Cristo, basta dizer-mos “sim,
eu quero”.
Não podemos deixar de
agradecer à Vinalda que patrocinou e brindou-nos com uma excelente carta de
vinhos: o Paço de Teixeiró, Quinta do Côtto e a Quinta do Côtto Vintage.